Com a transferência da família real e da corte, a capital do reino foi estabelecida no Rio de Janeiro, na então maior e mais importante colônia portuguesa, o Brasil.
Antecedentes
O plano de transferência da família real para o Brasil, refúgio seguro para a soberania portuguesa quando a resistência militar a um invasor fosse inútil na metrópole, fora já por duas vezes sugerido em tempos mais recuados: ante o avanço dos tercios do duque de Alba, o prior do Crato terá sido aconselhado a buscar um reduto além-Atlântico; na conjuntura aberta pela Restauração da independência (1640), quando a França abandonou Portugal no Congresso de Münster (1648), o padre António Vieira apontou idéia semelhante a dom João IV, associando-a ao vaticínio da fundação do Quinto Império. Mais tarde, sem ameaça militar iminente, o diplomata dom Luís da Cunha defendeu a idéia de se transferir para o Brasil a sede da monarquia portuguesa .
Perante a ameaça militar, além de sugerida, a ideia teve inícios de concretização quando a Espanha invadiu Portugal como consequência do "Pacto de Família", chegando o marquês de Pombal a mandar aprontar uma esquadra que transportaria o rei D. José I e a sua corte. Havia alguns exemplos estrangeiros a considerar: Vauban aconselhara o refúgio americano ao futuro Filipe V; e, Pombal, ao ordenar a preparação da Esquadra de D. José I, apoiava-se no precedente da Imperatriz Maria Teresa de Áustria se ter disposto a descer o Danúbio, se a sua Corte em Viena viesse a correr perigo.
No novo contexto internacional criado pelo Império de Napoleão Bonaparte, a ideia da retirada para o Brasil voltou à tona, sendo defendida pelo marquês de Alorna em 30 de Maio de 1801e, em 16 de Agosto de 1803, por dom Rodrigo de Sousa Coutinho.
A ideia de uma transferência para o Brasil, tendo surgido sobretudo em contextos de ameaça iminente à soberania portuguesa, como um meio de reforço de segurança, foi também apresentada como uma via necessária ao cumprimento de um projecto messiânico, como em António Vieira, ou como um meio para redefinir as relações de forças no "equilíbrio europeu" pós-Vestfália, como em dom Luís da Cunha, marquês de Alorna e dom Rodrigo de Sousa Coutinho.
A conjuntura de 1807
Antes das campanhas do Rossilhão e da Catalunha, a Espanha abandonara a aliança com Portugal, fazendo causa comum com o inimigo da véspera – a França de Napoleão. Resultou daí a invasão de 1801, em que a Inglaterra de nada serviu a Portugal.
Enquanto o Corpo de Observação da Gironda penetra em Portugal debaixo do pretexto da protecção, o Tratado de Fontainebleau entretanto assinado entre a França e a Espanha, retraçava Portugal em três principados. O plano de Napoleão era o de aprisionar a Família Real portuguesa, sucedendo a D. João VI o que vem a suceder a Fernando VII e a Carlos IV de Espanha em Baiona - forçar uma abdicação. Teria Portugal um Bonaparte no trono e, paralelamente, a Inglaterra apossar-se-ia das colônias portuguesas, sobretudo o Brasil.
A viagem
Os membros da Família Real saíram de Lisboa na madrugada do dia 27 de novembro de 1807. Já na madrugada do dia 29 de novembro um vento favorável permitiu que a esquadra rumasse ao Brasil. O General Junot entrou em Lisboa às 9 horas da manhã do dia 30 de novembro, liderando um exército de cerca 26 mil homens e tendo a sua frente um destacamento da cavalaria portuguesa que se rendeu e se pôs às suas ordens. Enquanto isso, os navios das esquadras portuguesa e inglesa se dispersaram devida a uma forte tempestade ocorrida. Em 5 de dezembro de 1807 os navios conseguiram se reagrupar e logo depois, em 11 de dezembro, a frota avistou a Ilha da Madeira.
Chegaram à costa da Bahia no dia 18 de janeiro de 1808 e no dia 22 os habitantes da Cidade de Salvador já puderam observar os primeiros navios da esquadra. Às quatro horas da tarde do dia 22, depois de todos os navios da esquadra estarem fundeados, o Conde da Ponte (governador da Bahia na época) foi a bordo do navio Príncipe Real. Já no próximo dia os membros da Câmara foram a bordo do mesmo navio.
A chegada
Largo do Paço, Rio de Janeiro (1834).
A comitiva real só desembarcou na Bahia às cinco horas da tarde do dia 24, com uma imensa solenidade. Então embarcaram rumo a cidade de Rio de Janeiro, aonde chegaram no dia 8 de março, no cais do Largo do Paço, na atual Praça XV em Rio de Janeiro.
A família real então foi alojada em três prédios no centro da cidade, logo após colocar na rua o vice-rei Marcos de Noronha e Brito, o conde dos Arcos, e todas as internas de um convento de carmelitas. Os demais agregados se espalharam pela cidade, em residências confiscadas da população. Esta era a famosa política chamada de “Ponha-se na Rua”, cujo nome foi dado pelos cariocas, inspirando-se nas iniciais “PR”, vindas de “Príncipe Regente” ou de “Prédio Roubado” como os mais irônicos diziam. Estas iniciais eram marcadas nas portas das casas que eram requisitadas para os nobres vindos de Portugal.
Um comentário:
Interessante o assunto. Queria mais detalhes como as Mudanças ocorridas, como foi o fim do pacto colonial, etc. Obrigada
Postar um comentário